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5.28.2008

A Saga do Monstro do Pântano

Eu li o Monstro do Pântano quando ele saia em formatinho pela Editora Abril no mensal Novos Titãs e Superamigos. Cara, não eram títulos para o teor da coisa, não msmo. O Monstro, criado em 1971 por Bernie Wrightson e Len Wein, era um personagem único dos quadrinhos. Ele havia sido um cientista, Alec Holland, que se transformou em homem-planta num acidente envolvendo uma fórmula que ele mesmo criou. Suas histórias sempre foram trágicas e cheias de mistério.

Sua melhor fase foi com Alan Moore, em 84. Foi a fase em que eu conheci o Monstro. Ali ele havia se tornado um gibi de horror msmo, com historias adultas. O Moore sempre foi foda, mas ele se superou com o Monstro. Havia horror, erotismo, questões ambientais e emocionais. O gibi era uma viagem úmida, escura, profunda, fascinante... para mim, foi meu passaporte para o abominável mundinho em que vivo hoje hehehehe afinal eu tinha pouco menos de 8 anos quando li o Monstro pela primeira vez.

O Monstro era um amontoado de raízes podres, musgo e vegetais estranhos, um projeto humanóide e enorme, de força sobre-humana. Mas o que mais se destacava nele não eram seus atributos físicos e poderes, mas sim sua psicologia; no fundo, ele era uma mente humana, cheia de temores, vontades, dúvidas e toda complexidade que alguém de verdade possui. Ele podia matar alguém em um simples acesso de raiva, como também podia questionar e por fim entender os motivos que levam alguém a matar. Não era um personagem mecânico, definido e objetivo, como tantos personagens de HQs por aí. Com um protagonista desses, suas histórias eram cheias de aberrações, demônios, magia negra e ocultismo; haviam vampiros na cidadezinha submersa Rosewood que se alimentavam daqueles que nadavam na superfície do lago, como sanguessugas; havia uma entidade que ficava cada vez mais forte através do medo, que absorvia das crianças indefesas de um orfanato decadente; mortos-vivos; lobisomens; casas mal-assombradas. Fora eles, o Monstro sempre trombava com o demônio Etrigan, Batman, Deadman, Espectro, Vingador Fantasma e outros personagens sombrios da DC. Um deles, John Constantine, deu as caras pela primeira vez em uma história do Monstro.

O que mais me fascinava era a evolução que o personagem sofria a cada edição. Aos poucos ele foi descobrindo ser, na verdade, um elemental e que sua origem foi um "acidente" orquestrado por forças primordiais. Ele podia renascer a partir de uma semente em qualquer lugar do mundo, "navegar" entre o Verde - um outro plano de consciência ligado à natureza - e controlar vegetais, inclusive manipular a forma de seu próprio corpo ou fazer a flora intestinal de alguém expandir para fora, numa explosão de raízes e sangue. Moore o transformou em praticamente um deus, falho porém dotado de poder inimaginável. Novos elementos eram adicionados, como o Parlamento das Árvores, composto por outros elementais, antigos, enraizados e adormecidos na floresta Amazônica.

Claro que não podia faltar um interesse amoroso nessa historia toda, no caso era Abigail Arcane, cujo tio era o cruel Anton Arcane, que msmo depois de morto sempre retornava para atormentar sua sobrinha e o Monstro, seu arqui-rival. Moore escreveu durante um bom período, chegando a encerrar, com chave de ouro, sua fase com o Monstro. Depois de enfrentar vários horrores, morrer, ressuscitar, viajar até o Inferno e vagar por planetas distantes, o Monstro ponderou sobre a possibilidade de atuar sobre a Terra como um verdadeiro guardião, considerando o poder que aprendeu no decorrer de toda a saga de Moore. Mas no final, junto de Abby, ele decidiu ficar em paz num pântano de Louisiana - que desde o princípio de sua trajetória, era o que ele mais queria.

Depois disso é claro que a Vertigo nao deixaria o Monstro em paz e foram lançadas novas sagas, com outros autores. O título foi cancelado várias vezes depois disso e mal acompanhei essas novas histórias, lendo tudo picado por aqui. Eu soube por cima que ele teve uma filha, Tefé, capaz de controlar a carne; que ele conseguiu viajar no tempo - tendo até uma edição (vetada) em que ele encontrava Cristo - e controlar outros elementos(fogo, água, ar), até que decidiram retornar ao "básico", tornando-o novamente num simples elemental-planta e focar suas historias no horror, até que sua série chegasse ao derradeiro fim.

Para mim, esse fim já tinha acontecido na fase do Moore. Ainda tenho o maior carinho pelo Monstro, meu ídolo desde a infância, e vira-e-mexe releio suas histórias sempre que posso.

1 Comment:

Juliano said...

E aí?Beleza? Me chamo Juliano, e também sou uma aficcionado pelo Monstro do Pântano. Curti muito o que escreveu a respeito da Saga do Monstro e concordo plenamente com a idéia que tudo termina quando o mestre Alan Moore deixou de escrever. Para mim, se encerrou um ciclo, e com chave de ouro!!!Tentei ver alguma coisa depois disso, mas nada supera ou iguala a grande obra de Alan Moore. Não tem pra nínguem. Sem sombras de dúvida, o melhor quadrinho que já li!Incomparável! Grande Abraço! Juliano

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